Cientistas vão retomar pesquisas com vírus híbrido da gripe aviária

04/02/2013 04:18

 

Estudos foram suspensos por 1 ano ao gerar temores quanto à segurança.
Pesquisa ocorrerá só em países que deram sinal verde e definiram regras.


Gripe aviária (Foto: Reuters)Cientistas criaram vírus híbrido do H5N1 que poderia
ser facilmente transmitido a humanos (Reuters)

Cientistas que estudam o vírus da gripe aviária (H5N1) anunciaram nesta semana que decidiram retomar as pesquisas sobre o tema, após interrupção por um ano para acalmar temores suscitados entre a comunidade científica e setores da sociedade.

A decisão foi divulgada em uma carta, assinada por 40 proeminentes cientistas de uma dúzia de países, publicada nesta nas revistas “Science” e “Nature”.

A moratória havia sido decretada depois que cientistas norte-americanos e holandeses desenvolveram uma mutação do vírus da gripe aviária que poderia ser transmitida facilmente entre os mamíferos - neste caso furões, considerados um modelo de pesquisa para os seres humanos – através de gotículas respiratórias.

Segundo os pesquisadores, o trabalho poderia auxiliar no desenvolvimento de medicamentos e vacinas para proteger a humanidade contra uma futura ameaça do H5N1. As pesquisas ressaltaram também o risco de que o vírus pudesse evoluir naturalmente, provocando uma pandemia entre os humanos.

No entanto, a publicação dos resultados desses estudos gerou preocupações com relação à segurança das investigações, incluindo a possibilidade do vírus híbrido cair nas mãos de terroristas ou mesmo contaminar cientistas no laboratório.

A reação da sociedade levou as equipes de pesquisa a decretarem, em janeiro de 2012, uma pausa inicial nas investigações de 60 dias, prazo que foi prorrogado.

O objetivo da pausa era dar condições à comunidade científica para explicar os benefícios do trabalho para saúde pública, estabelecer medidas para minimizar os possíveis riscos e dar tempo aos governos para realizar uma revisão das políticas sobre esse tipo de experiência científica.

Retomada
Na nova carta, publicada nesta semana, os signatários afirmam que os objetivos do congelamento foram atingidos em muitas nações e estão perto de serem cumpridos em outras. De acordo com o texto, a pesquisa será retomada somente nos países cujos governos deram sinal verde, estabelecendo medidas de biossegurança.

Gripe (Foto:  ANP/AFP)Estudos querem preparar humanidade para lidar com
futura pandemia, dizem pesquisadores (Foto: AFP)

As equipes justificaram a decisão dizendo a ciência tem "responsabilidade com relação à saúde pública" e que os estudos de transmissão do vírus H5N1 são essenciais para prevenir uma pandemia no futuro, uma vez que o vírus da gripe aviária continua a evoluir na natureza.

“Estamos perfeitamente conscientes de que esta pesquisa - como acontece com qualquer trabalho envolvendo agentes infecciosos - não é isenta de riscos. No entanto, [...] os benefícios deste trabalho superam os riscos”, escreveram os cientistas na carta.

O documento alerta também que os estudos não devem ocorrer nos países onde ainda não há decisão sobre as condições de segurança, incluindo os Estados Unidos, que ainda está elaborando as diretrizes de biossegurança. A suspensão tem efeito também nas pesquisas de outros países financiadas pelo governo dos EUA ou por instituições norte-americanas.

Vírus mortal
Em sua forma atual, o vírus se espalha facilmente entre aves domésticas e selvagens, mas raramente é transmitido aos seres humanos. Segundo especialistas, é ainda mais difícil o vírus passar de humano para humano, o que só aconteceu em casos isolados.

O H5N1 é mortal em humanos e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), matou 360 das 610 pessoas infectadas desde 2003 até os dias atuais. De acordo com o órgão, os humanos contraíram o vírus por manipularem aves infectadas vivas ou mortas, e não há qualquer evidência de contaminação a partir do consumo de aves preparadas adequadamente.

Funcionários da agência de saúde de Hong Kong colocam galinhas mortas dentro de sacos de lixo em um mercado de aves nesta quarta-feira (21). Serão abatidos cerca de 17 mil frangos após umas galinha morta ser diagnosticada com H5N1, o vírus da gripe aviári (Foto: Tyrone Siu/Reuters)Funcionários da agência de saúde de Hong Kong
recolhem galinhas mortas (Foto: Tyrone Siu/Reuters)

Debate
A retomada das investigações foi criticada por parte da comunidade científica, que vê com desconfiança as investigações com o vírus híbrido.

Em um comentário editorial, a revista "Nature" disse que o debate sobre o assunto deve continuar, alegando que a pesquisa tem uma "natureza dupla", pois traz benefícios públicos, mas também apresenta um risco de abuso.

"O fim da moratória não deve ser visto como o encerramento do debate. Os riscos potenciais do trabalho exigem precauções excepcionais em qualquer pesquisa futura", afirmou a publicação.

 

 

Fonte: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2013/01/cientistas-vao-retomar-pesquisas-com-virus-hibrido-da-gripe-aviaria.html