O grupo integra o Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), que há 15 anos pesquisa os efeitos climáticos e humanos na região.
De acordo com o estudo divulgado na revista “Nature” desta quarta-feira (18), a soma de eventos decorrentes da expansão agrícola, da atividade madeireira em excesso e da mudança climática global resultariam em uma “catástrofe ambiental” no bioma, com reflexos na temperatura e no sistema de chuva.
Desta forma, haveria mais períodos de seca intensa, que alterariam a distribuição das precipitações na região amazônica, cuja população saltou de 6 milhões, em 1960, para 22 milhões, em 2010. A consequência disto é a queda na produtividade agropecuária, elevação de casos de doenças respiratórias, enchentes, redução da oferta de água potável, além de prejuízo à navegação e à geração de energia por hidrelétricas.
Análise
O documento científico analisou as secas que ocorreram na Amazônia em 2005 e 2010, consideradas graves, além de outros fenômenos climáticos como os efeitos do El Niño e alterações no sistema de chuvas já detectadas no bioma.
Percebeu-se uma elevação na quantidade de “pancadas” (precipitações rápidas, mas com grande volume de água) nas regiões leste e sudeste da Amazônia, que causam o aumento na vazão dos rios.
Os cursos d’água, por sua vez, ao receber grande quantidade de chuva podem transbordar devido aos sedimentos em excesso, vindos de processos erosivos causados pelo desmatamento da floresta. Tais consequências causariam danos às cidades como inundações.
“Em bacias como as do Rio Tocantins e Araguaia, constatamos um volume maior de sedimentos, que vêm de áreas desmatadas devido às atividades agrícolas. Essa concentração maior de precipitação pode afetar as cidades ao redor”, disse o pesquisador Alessandro Carioca de Araújo, um dos autores do artigo e que realiza pesquisas na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Outro ponto analisado pelo estudo é a mudança no processo de evapotranspiração (transpiração de plantas) devido à elevação de temperaturas, consequência da mudança climática.
O trabalho afirma que a floresta consegue se adaptar aos períodos de seca, principalmente árvores com raízes profundas, que absorvem a água existente a entre 10 m e 15 m de profundidade, em lençóis freáticos.
“Porém, com a possibilidade de ocorrer secas cada vez mais intensas em espaço curto de tempo, árvores mais velhas podem morrer. Desta forma, a floresta mudaria de perfil, com uma existência maior de plantas que conseguem sobreviver a altas temperaturas (seleção natural), assim como aquelas que já existem no cerrado brasileiro”, complementou. O processo, já abordado em outras pesquisas, é chamado de “Savanização da Amazônia”.
Segundo Araújo, as pesquisas que integram o LBA foram importantes para compreender as melhores formas de planejamento e governança na floresta, evitando erros cometidos no passado, como o desmatamento em excesso.
“Quanto à mudança climática, não temos como combatê-la, mas sim adaptar a ela. Porém, é possível evitar o desmatamento na região, que diminuiria o envio de sedimentos aos rios, com a aplicação de tecnologias avançadas, que já estão em fase de teste”, disse.
Ele cita que é necessário parar com as queimadas na floresta, que afeta a formação de nuvens de chuva devido às emissões de aerossóis e fuligem, em virtude das atividades agropecuárias. “Temos que substituir a prática da queimada, que sabemos que é mais barato. Porém, ela terá um custo muito alto para o meio ambiente”, complementa.