Amostras de âmbar coletadas no oeste canadense contendo fósseis de dinossauros e pássaros podem ter revelado a mais abrangente história evolucionária das penas até hoje, segundo estudo divulgado na publicação científica Science.
Os 11 fragmentos no depósito de âmbar de cerca de 80 milhões de anos mostram a progressão desde pequenos "filamentos" semelhantes a fios de cabelo até às penas mais complexas como as dos pássaros atuais.
As descobertas, acompanhadas por outro estudo sobre a coloração das penas, reforça a tese, relativamente recente, de que muitos dinossauros tinham penas muito coloridas.
Fósseis encontrados na China sugerem que dinossauros tinham penas cujos filamentos mais simples se pareciam mais com pêlos.
Mas sua evolução até as penas modernas não havia sido documentada em registros fósseis.
Sorte
O estudo do depósito encontrado nas proximidades do lago Grassy em Alberta, datando do Cretácio Superior, traz exemplos de estruturas de penas que revelam a progressão.
"Vemos dois tipos de desenvolvimento evolucionário armazenados no mesmo depósito de âmbar", disse Ryan McKellar, da Universidade de Alberta, que liderou o estudo.
O estudo confirma que filamentos individuais se transformaram em tufos, ou filamentos de uma origem única chamados de farpas.
Posteriormente, algumas destas farpas podem se aglutinar em ramos únicos chamados ráquis. Com a evolução da estrutura, novos ramos são formados a partir destes ráquis.
"Temos penas que parecem com filamentos do tipo dos pêlos, temos estes mesmos filamentos aglutinados em grupos e temos então uma série que é idêntica às das penas dos pássaros modernos", disse McKellar à BBC.
Na época do Cretácio Superior, as penas chegaram praticamente ao fim de sua evolução e a descoberta de espécies de tipos diferentes no mesmo depósito de âmbar foi considerada simplesmente sorte.
"Sabemos já há algum tempo que muitos dos dinossauros que não eram pássaros tinham penas e muitos possuíam penas iguais às que vemos nos pombos de hoje", disse Mark Norell, chefe da divisão de paleontologia do American Museum de história natural, que não esteve envolvido no estudo.
"O interessante é a diversidade das penas presentes nesses dinossauros não aviários que conviveram em um intervalo de tempo próximo do desaparecimento dessas criaturas, há 65 milhões de anos", disse ele à BBC.
Cores
As penas mais desenvolvidas lembram as dos pássaros aquáticos e McKellar diz que nenhuma delas era adaptada para o voo, mas aparentemente para estratégias de ornamentação.
Um outro estudo divulgado na Science examina outro aspecto da ornamentação, a cor.
As cores ocorrem nas penas devido a estruturas nas células chamadas malanossomos, que contêm melanina, a mesma substância química que fornece cor para nossas peles.
Estudos sobre remanescentes destes melanossomos já forneceram evidências, por exemplo, que um dos primeiros dinossauros com penas descobertos, o Sinosauropteryx, era vermelho.
Mas geralmente os melanossomos nas penas, ou sua melanina, é destruída com o passar do tempo, deixando poucas pistas sobre as cores que cada dinossauro teria.
O cientista Roy Wogelius da universidade britânica de Manchester desenvolveu um método que usa raios de luz de alta energia de um Síncrotron (acelerador de partículas) capaz de detectar pequenas quantidades de átomos metálicos remanescentes da eulamina, um dos tipos de melanina responsável por uma variação de cores do marrom ao negro.
"Uma compreensão perfeita das cores é improvável, exceto talvez em alguns casos excepcionais", disse Wogelius.
"Mas com os avanços tecnológicos, estamos otimistas de que poderemos determinar detalhes químicos além de padrões de claro e escuro."
De fato, acredita-se cada vez mais que muitos dinossauros não tinham as cores que tradicionalmente associamos a répteis.
"Se você fosse transportado para 80 milhões de anos atrás, para uma floresta na América do Norte, veria que muitos animais tinham penas", disse Norell.
"Ganhamos cada vez mais evidência... de que esses animais também tinham cores brilhantes, como os pássaros de hoje."